Ao rir muito com esta charge postada no blog do meu amigo Daniel Rocha lá de Poço Branco (www.drtargino.zip.net), lembrei dos maus bocados que passei no hospital Walfredo Gurgel.
Era novembro de 1999 e eu começava a me preocupar sobre onde eu iria passar o carnatal. Naquele tempo Natal parava para participar da festa e quase nada funcionava, bem diferente deste ano, que em Shopings e outros lugares parecia que a festa nem estava acontecendo. Pois bem, após fazer uma caminhada senti dores no estômago, tipo aquela dor que aqui no interior chamamos "dor de viado". Fui pra casa tomei um banho e tentei dormir. A dor aumentou, peguei o carro e sai feito um louco. O ar parecia me faltar. Como eu tinha plano de saúde, na época Hapvida (Haperreiodevida), pensei em ir ao São Lucas, só que a dor aumentou, e como o Walfredo era caminho não pensei duas vezes, parei em frente, sai do carro e fui direto pra emergência. Por milagre, fui atendido rapidinho, e logo me deram uma injeção pra dor e me mandaram pra casa.
No dia seguinte logo cedo, a dor voltou mais intensa e mais localizada. Pedi então a Djalma meu primo para me levar até o São Lucas. Chegando ao São Lucas, fui atendido e exames foram realizados. Descobriram que eu estava com a apendice inflamada, e que deveria ser operado imediatamente. Ai começa o meu calvário.
Após saber que eu seria operado, Djalma meu primo recebe as orientações do hospital que ele deveria entrar em contato com a Hapvida. Ele entre em contato e o plano envia uma auditora para autorizar a cirurgia. Ao chegar a enfermaria, a auditora me encontra conversando com Djalma e diz: "O senhor é o rapaz que está prestes a ser cirurgiado de urgência?" Sim, sou eu! Respondi sem entender, ela procurou o médico e disse que a Hapvida só autorizaria após o dia 10 de dezembro, ou seja, uns 15 dias depois, motivo: A Hapvida já tinha batido sua cota lá no São Lucas e eu estava bem e poderia esperar a base de medicamentos.
O médico chateado com a situação me chamou e disse que me operava no Walfredo Gurgel. Eu entrei em pânico. Pô, você deixa as vezes de se divertir, de comprar algo, pra pagar um plano de saúde, e quando precisa te negam, é fo..!
Então, comecei a ligar pra todo mundo, meus familiares ficaram meios que atordoados, Walfredo? Se perguntavam. Mas....era o que eu tinha. Fui então encaminhado para lá. Me lembro que cheguei as 10 horas no hospital, deu onze, doze, duas, quatro horas e nada. E olhe que teve assessor de Deputado que ainda disse que mexeu os pauzinhos, pois bem, irritados com a situação, meu primo Djalma e Maria Perereca começaram a falar alto, gritaram tanto que devo ter passado na frente de muita gente. Graças a Deus a cirurgia foi um sucesso, mais o pior estava por vim.
Acordo eu por volta das três horas da manhã, com um cara tentando me pagar, sim, me pegar, o cara esticava o braço, como se pedisse por ajuda. Eu, com recém operado, aquilo doia demais, mas, a dor passava só em olhar a cabeça do cidadão, toda esmagada por um tiro. Para completar, chega uma enfermeira feia e gorda e diz: Mije aqui! E me dar um saquinho, o pior é a cena, eu lá nu e ela esperando eu mijar. Eu disse: Tenha paciência minha senhora, vá dar uma voltinha. Ela voltou após uns 15 minutos, e perguntou: E ai, já mijou? Se não, vou colocar uma sonda. Rapaz, quando eu vi o que era a tal sonda, fiquei desesperado, mas, graças a Deus o turno da infeliz acabou e ela não voltou mais. Lá para as cinco da manhã, eu já estava com muita dor e a bexiga cheia e nada, ai, me chega uma enfermeira, mais educada e pergunta: Não conseguiu mijar ainda? Eu respondo que não e que está doendo. A mesma molha uma fralda e coloca sobre minha barriga e liga a torneira, foi uma festa, enchi tanto saquinho que dava pra encher uma pipa.
Logo pela manhã, fico ali ao lado de uma mulher gritando de dor e do cara agonizando com o tiro na cabeça, normal, se eu não tivesse nu e arrodeado de enfermeiras, todas brincando e tirando onda, perguntando umas as outras quem daria banho no ursinho. Imaginem quem era o tal ursinho. Já advinharam né? Fugi e fui tomar banho sozinho. Mais tarde chega uma médica e diz: O que este rapaz está fazendo ainda aqui, tá querendo pegar uma infecção? Imaginem vocês a minha cara de medo nessa hora. Foi ai que uma enfermeira respondeu: Não tem leito. Então a médica disse: Mande ele pra o sétimo andar. A enfermeira olhou com uma cara de espanto e disse: Mas Doutora, lá tem um preso não deveria ficar ninguém com ele. A médica olhou pra mim e perguntou: Você acha melhor pegar uma infecção aqui e talvez morrer, ou ficar num quarto com um preso algemado? Eu disse: Subo agora Doutora.
Passei 07 dias no quarto com o preso, Roberto seu nome, tinha roubado uma moto e caído após o roubo, mas tranquilo, o cara me respeitou muito. Estes sete dias serviram para eu refleti sobre o caos que é nossa saúde pública.
Esta é uma pequena história sobre as coisas do nosso Brasil.
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